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domingo, 23 de agosto de 2009

Resenhado por Aline Andreazza
Enquanto acadêmica do curso de História pela Universidade de Caxias do Sul


O HERÓI JULHO DE CASTILHOS


O texto a seguir baseia-se no capítulo 3. “O Herói Júlio de Castilhos e a Tradição reordenada”, do livro Imagens do Gaúcho – História e Mitificação, de Daysi Lange Albeche.


Logo no início do capítulo, a autora nos dá uma breve idéia de como pensavam os Republicanos, que atribuíam todo o mal que havia na sociedade à permanência do regime monárquico. Com a proclamação da república em 15 de Novembro de 1889, os estados passaram a ter autonomia para legislar livremente, desde que não ferissem a constituição do país. Daysi coloca que no Rio Grande do Sul foi diferente. O Executivo passou a dominar o Legislativo e o Judiciário, o Partido Republicano Rio-grandense se instala, governando de 1892 até 1930 sem interrupções. Inspirados por Comte eram positivistas ferrenhos, sendo assim se utilizavam da idéia de que “Se um homem revela capacidades e qualidades deve-se conservá-lo no poder”.


De acordo com Daysi, as Idéias de Ordem e Progresso representavam uma sociedade urbana onde se destacam os banqueiros e capitalistas (comerciantes e industriais) que organizam a sociedade. Pelo texto também percebemos o quanto o discurso Castilhista se inspirou em Augusto Comte. Era sob as idéias positivistas de Comte, que sustentava que a ciência social positivista era a única capaz de iluminar e guiar a verdadeira arte política, sobre a qual Júlio de Castilhos criou uma nova proposta de organização social. Como mostra Daysi: ...”O regime público deveria ser a expressão da dedicação dos fortes para com os fracos e pela veneração dos fracos para com os fortes”. Isso contribuiu para a implantação de um regime autoritário e a Ditadura Científica Positivista. A autora não deixa de relatar que, embora a doutrina de Comte seja elaborada para a sociedade francesa do séc. passado, Júlio de Castilhos e o PRR reinterpretaram e adaptaram os elementos simbólicos da sociedade positivista, como uma etapa final de evolução que seria o Tempo de Ouro de ordem, progresso, felicidade liberdade e justiça. No decorres do capítulo, a autora também mostra que o positivismo está presente nos estatuários do centro da cidade, logo, os castilhistas preocupavam-se em destacar nos prédios oficiais, através da arte, que a nova organização social está associada ao progresso da ordem capitalista e industrial.

Seguindo este paradigma, a autora dá uma ênfase maior ao personagem de Júlio de Castilhos, que, segunda ela, mostrou-se ser o único eleito, sem oposição, para estabelecer a ordem republicana no Rio Grande do Sul. Júlio de Castilhos utilizou-se da Revolução Federalista para eliminar toda e qualquer oposição política, e também para aumentar o seu poder.


A Brigada Militar segundo sustenta a autora, foi uma criação de Júlio de Castilhos, juntamente com o Grêmio Gaúcho de Tradição. Essa força policial controlava, pelo uso da força qualquer desordem que viesse atrapalhar o desenvolvimento da Ordem e do Progresso. Já o Grêmio Gaúcho de Tradição contribuía com a propaganda à memória dos grandes homens. A propaganda republicana utilizou a Revolução Farroupilha como modelo de moral a ser passado para as gerações futuras. Segundo Daysi, ...”a Epopéia Farroupilha tornou-se modelo dos valores de ordem, progresso, generosidade, liberdade, bravura, sabedoria e justiça de que o partido republicano dizia-se continuador”.


A autora deixa clara a importância que tinha Júlio de Castilhos no Tempo de Ouro. Após sua morte, em 24 de outubro de 1903, Passou a ser cultuado como herói. Ele não era mais um homem comum, passou a ser único, dispensado de qualquer questionamento, crítica e avaliação sobre sua conduta. Nesse retrato ele torna-se despossuidor de falhas e defeitos. A autora nos apresenta alguns atributos a Júlio de Castilhos, dos quais posso citar: Anjo da República, Hércules, Grande Oráculo da Sociedade Rio-Grandense e por aí à fora. Como explica Daysi, queriam que a figura de Júlio de Castilhos fosse transformada em um mito, sendo assim, ele passou a ser apresentado como um homem eleito, a idéia era que ele morria apenas fisicamente, mas seu exemplo ficara, conforme o pensamento de Augusto Comte:”Os Vivos são sempre, e cada vez mais, governados necessariamente pelos mortos”. Era necessário que suas idéias e princípios ficassem preservados no imaginário popular.



De acordo com Deysi, este apelo para tornar Júlio de Castilhos um mito foi tão forte que ocorriam peregrinações e romarias ao seu túmulo. Perante aos adeptos da tradição reordenada, Júlio de Castilhos era o único Rio-Grandense que reunia todos os atributos e virtudes de um espírito elevado e superior, recebendo título de Patriarca, Guia Capaz, Cavaleiro Andante da República, entre outros. A glorificação de Júlio de Castilhos deveria ficar sempre presente na lembrança de todos os “bons Republicanos”.


Na parte final do capítulo a autora nos fala sobre o sucessor de Júlio de Castilhos Borges de Medeiros, que segundo ela, após a morte de Castilhos, passou a ser apresentado como símbolo de todas as virtudes sociais e políticas, por dar continuação à obra republicana iniciada pelo Patriarca.


Como esclarece Daysi, Borges de Medeiros, após ser considerado discípulo do grande mestre, passou a ter a responsabilidade de administrar o grande tesouro que o mestre alcançou, dando continuidade a obra republicana castilhista. O PRR acreditava que o Herói Júlio, mesmo morto, continuaria interagindo através de Borges.

Deysi escreve que Borges de Medeiros teve cinco mandatos, e nesse período ele legitimou a continuidade do regime autoritário, cabendo somente a ele reger as tarefas administrativas como também escolher e indicar os “eleitos” para participar na representação partidária, tanto a nível estadual quanto federal. Daysi cita João Pio de Almeida, que em sua obra coloca Borges de Medeiros como um homem puro, pois por viver aos serviços da coletividade, não tinha ambições pessoais à não ser, a de ser útil à Pátria e à República. Sendo assim, como nos apresenta a autora: ... “para o discurso republicano, Borges de Medeiros representava o elo de continuação do regime de sabedoria, moralidade e educação cívica inaugurado pelo Patriarca.





Para terminar, Deysi coloca Júlio como uma figura imortal, grandiosa, como se já houvesse nascido predestinado a tornar-se um símbolo de sabedoria e de justiça, um modelo para as futuras gerações. Essa foi a construção feita em torno da figura de Castilhos. Mas a autora não nos deixa esquecer que, hoje, seu túmulo e monumentos servem apenas para o estudo das artes funerárias e monumental e não há mais romarias organizadas.

Segundo a autora, a criação do mito do herói Júlio de Castilhos tornou-se o signo de uma época, isto é, de um Tempo de Ouro que não se referia ao gaúcho real tal como era, assim como nas obras literárias, a representação do gaúcho não é fiel ao que realmente parecia.